MGME - Aprofundamento de Conteúdos e Metodologias - Língua Portuguesa -
1a edição/2013
“... a obra literária clássica não deve ser
vista como um livro antigo e fora de moda, mas como um livro que nunca sai de
moda. Como mostrarmos aos nossos alunos que um livro escrito há mais de um
século pode ainda estar de moda? O mundo
atual nos oferece uma grande variedade de gêneros textuais, os quais lemos a
todo momento. Com a tecnologia, os nossos alunos estão acostumados ao
imediatismo e ler um livro não é algo tão imediato. Sabemos que há
adolescentes/crianças que gostam de ler Harry Potter, saga do Crepúsculo, entre
outras obras. Mas e os livros e autores clássicos? Como é a recepção dessas
obras pelos alunos”?
Na leitura de textos literários e na sua interpretação,
as interpretações de Iser Wolfgang e Eni Orlandi, são bastante pertinentes para
essa reflexão e com embasamento nesse contexto teórico as transcrevo:
Iser Wolfgang” insistiu fortemente no fato de que um mesmo texto pode
ser objeto de leituras diversas, contrastantes, que não há interpretação
“correta” de uma obra que tenha de se impor, que todo texto é por definição
polissêmica e ambígua, rica de numerosos “potenciais de significação”, não
esgotadas pelo leitor que se nutre de interpretações múltiplas e variadas. No
entanto, as interpretações não são infinitas. O texto, por sua estrutura e seu
conteúdo a um só tempo explícito e implícito, guia a imaginação do leitor,
controlando-a. A leitura é um processo que alterna liberdade, criação e coerção”.(HORELLOU-LAFARGE,
Chantal; SEGRÉ, Monique. Sociologia da leitura. São Paulo: Ateliê Editorial,
2010, p.139)
“A
pluralidade aparece novamente nesse contexto, centrado nos aspectos
interpretativos”. Na citação, o termo “interpretar” pode ser entendido como uma
grande competência, que exige do leitor o cruzamento de informações, a
formulação de hipóteses de sentido, coerentes com o texto e suas proposições,
porém nunca observadas como resposta singular a um questionamento. Uma
interpretação, a partir desse viés, será sempre uma possibilidade de
entendimento, certamente acompanhado de outros.
Para
Eni Orlandi, “a interpretação está condicionada a algumas determinações, desse
modo, os sentidos de um texto, a partir de um questionamento posto, se
constituirão cercados por algumas determinações sociais”.
E para que a língua faça sentido é preciso que
a história intervenha. E com ela o equívoco, a ambiguidade, a opacidade, a
espessura material do significante. Daí a necessidade de administrá-la, de
regular as suas possibilidades, as suas condições. A interpretação, portanto,
não é mero gesto de decodificação, de apreensão do sentido. Também não é livre
de determinações. Ela “não pode ser qualquer uma e não é igualmente distribuída
na formação social”. (ORLANDI, Eni. Interpretação; autoria, leitura e efeitos
do trabalho simbólico. Campinas: Pontes, 2004, p.67)
“As
duas definições, de Wolfgang e Orlandi, de certa forma, reforçam uma mesma
ideia: há um componente polissêmico na leitura; essa polissemia, no entanto,
está sujeita a determinações, marcadas pelo texto e pelos valores que a ele se
associam no processo histórico da cultura e a literatura está associada a esse
processo”, por isso se faz tão necessária a sua exploração em sala de aula".